quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Conheces o Eurico?

Eurico é um grande profissional na área da informática,, mas tem baixo autoestima.

Nunca ouvira um elogio, nem dos pais e nem dos professores; nunca um reconhecimento pelo seu talento e dedicação. Talvez tenha apenas passado despercebido por todos, mas Eurico sentia muito a falta de elogios.

Na empresa onde trabalhava a situação se repetia; nada de reconhecimento pelo trabalho.

Porquê? O que faltava? O que mais Eurico poderia fazer, haja vista que para ele havia a necessidade de receber elogios. Gary Chapman, em seu livro: As 5 linguagens do amor; acredita que - receber elogios é uma dessas 5 linguagens; poderia ser a de Eurico.

Certa noite haveria uma confraternização na empresa em que Eurico trabalhava, eram mais de 100 funcionários. Todos foram avisados de que alguns seriam homenageados.

Dois amigos de Eurico disseram a ele que com certeza seria dessa vez. Com certeza, disseram os amigos, um dos talentos da empresa seria Eurico, afinal de contas, ele havia feito ótimos trabalhos no último ano.

A tão esperada noite chega. Um delicioso jantar é preparado e chega o momento do discurso do chefe. Todos na ansiedade de ouvir os nomes dos homenageados, Eurico e os amigos em especial.

Bruno, proprietário da empresa, começa seu discurso e elogia vários funcionários. Os amigos de Eurico, dizem:
- Em poucos minutos você será chamado pelo chefe.

Sete funcionários são chamados por Bruno e recebem várias homenagens e prêmios, mas Eurico fica de fora. Os amigos o consolam; quem sabe da próxima vez. Eurico diz aos amigos que seria surpresa se fosse lembrado e elogiado. É sempre assim.

Naquela mesma noite o patrão de Eurico vai a um jantar com importantes investidores da empresa. Empresários muito bem sucedidos e ricos. Em certo momento Bruno cita o nome de Eurico. Dois dos quatro empresários aproximam o corpo da mesa e dizem que conhecem Eurico. Fazem vários elogios. Um deles, Eduardo Fonseca, diz:

- Não posso acreditar que você conseguiu contratar o Eurico Ferreira!

Bruno, espantado, pergunta o motivo da surpresa dos colegas. Eduardo, responde:

- Eurico Ferreira é o melhor na área. Tem o hábito de trabalhar por conta própria, se soubesse que aceitaria ser contratado eu o queria na minha empresa. Tens o mais talentoso, honesto e dedicado dos que trabalham com informática.

Bruno se sente desconfortável e libera um leve sorriso. No fundo sente certo remorso e constrangimento por não ter percebido o talento de Eurico, e nem de tê-lo homenageado mais cedo naquela mesma noite. Mas pensa em no dia seguinte, assim que chegar na empresa chamar Eurico e lhe fazer um elogio na frente de todos; na verdade, fica ansioso por fazer isso.

Logo cedo, quando todos já estão trabalhando, Bruno olha em volta e chama Eurico. Pede para ele se aproximar. Quer dar um elogio em bom volume para todos ouvirem.

Eurico, meio sem graça, chega perto do chefe e eles se cumprimentam. Muitos dos funcionários param para observar e ouvir o que dirá Bruno. Ele diz:

- Eurico Ferreira, ontem saí para jantar e encontrei uma pessoa que diz te conhecer muito bem. Você conhece, Eduardo Fonseca?

Eurico, sem pensar muito, responde:

- Conheço sim. É um grande mentiroso - Eurico ainda pergunta:

- Por quê? - Bruno, sem entender mais nada, coloca a mão sobre o ombro de Eurico e diz:

- Nada, não é nada. Volte ao trabalho, por favor.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Pior que é


Pior que é


Pior que é. Quantas vezes o amigo leitor ou leitora já ouviu
sa expressão?


Normalmente essa curta e estranha frase vem seguida de
algo difícil ou ruim ao qual o interlocutor concorda querendo
não concordar.

Coisas do tipo: Os times aqui da capital têm mais é que ficar
na série B mesmo. Pior que é.

Ninguém pode confiar em mais ninguém. Pior que é.

As máquinas de cartões de débito e crédito são tão úteis que
até ladrões já estão aceitando. Pior que é.

Mas a frase, e digo isso como testemunha ocular, evita até brigas
e elimina rapidamente discussões.

Meu saudoso amigo, Rona (esse era seu apelido) a usava com
muita frequência. Sempre que havia pelo menos duas pessoas
perto dele discutindo qualquer coisa; política, futebol ou religião,
quando o João dava sua opinião, o Rona dizia: “Pior que é”.

O José defendia outro ponto de vista e olhavam para o Rona que
dizia: “Pior que é”.

Pior é que o Rona não brigava com ninguém, ou quero dizer, melhor.

Alguém dirá: Então esse tal de Rona não tinha opinião própria, concordava
com todo mundo. Pior que é. Ou melhor, não sei.
O ponto é que ele sempre acreditava que os
dois ou mais pontos de vista diferentes tinham lá a sua parcela de razão e
concordava com todos ou não desprezava nenhum.

Ele tinha também a tendência ou defeito de levar tudo ao pé da letra.
Não devia conhecer metáforas. Quando meu sócio na vidraçaria
reclamava que ele perdia e desperdiçava vários pregos, eram uns 5 ou 6,
meu sócio, Lindomar, dizia ao Rona:

- O Rona. Que desperdício, mais de 100 pregos perdidos -

O Rona que não conhecia hipérboles, mas sabia contar juntava os pregos,
os mostrava ao meu sócio e dizia:

- 100 pregos? Isso aqui são 100 pregos? Tu não sabe contar.

E assim o Rona vivia de bem com todos, menos com sua sorte na vida.

O Rona teve um pai cruel, pior que é. Seu pai obrigava os filhos a trabalhar
logo que completavam uns 14 anos; se não colaborassem com as despesas
da casa, nem sequer podiam comer. E não podiam mesmo.

Um dia o Rona fora demitido por conta de fiscalizações de trabalhos de
menores; e isso foi lá por volta de 1983. Seu pai não quis ouvir justificativas.
Deu uma surra no Rona queo deixou 3 dias de cama, nem a aula ele pôde ir.

Então ele conseguiu um serviço qualquer, um que lhe desse dinheiro para
levar ao rigoroso pai.

Um dia o ingênuo Rona precisou queimar alguns objetos na empresa que
ficava perto da sua casa. Em sua inocência ou numa bobeira ainda infantil
deixou que o produto inflamável se espalhasse por suas pernas e acendeu
o fogo. Tragédia.

O fogo não poupou nada da cintura para baixo do Rona. Graves queimaduras
o deixaram com terríveis dores, incontáveis cicatrizes e um jeito de viver bastante
peculiar; passou a ser revoltado com a vida em si; sabe-se lá se não discordar de
ninguém fosse uma necessária calmaria. Nunca mais “acender ou ajudar a
acender uma fogueira que dói e deixa cicatrizes permanentes”.

A revolta com sua sorte na vida não o faziam culpar o pai. Pelo menos ele não
dizia nada, mas nós, os amigos, desenvolvemos um asco as ações de seu pai.

Rona nos fez rir muito e muitas vezes; nos deu importantes lições. E a partir de
hoje a cada crônica em que aparecer no tema - Pior que é - será dedicada a ele.

Há poucos dias ouvi uma amiga muito inteligente dizer: “às vezes é melhor ser
feliz e ficar em paz do que ter razão”.

O Rona, se ouvisse essa frase, com certeza diria: Pior que é.

E diria o mesmo a quem discordasse!



sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Convite à reflexão: Festa ou velório?

Convite à reflexão: Na festa ou no velório?

Se alguém te convidasse para ir a um lugar para refletir sobre a vida, a tua existência, teus desafetos, tuas qualidade e defeitos; qual seria o melhor lugar, uma festa ou um funeral?

A pergunta não é indiscreta, mas pode causar calafrios ou indignação; até aí tudo bem.

Mas estamos falando sério. Vamos pular o porquê da pergunta e ir direto aos fatos.

Numa festa se come, se bebe, se dança, se paquera, se namora; enfim, as pessoas se divertem. Nos soltamos numa festa; alguns, depois de umas e outras.

Na festa se deixa de lado as dificuldades nos estudos, no trabalho, nos relacionamentos, no casamento, atritos entre pais e filhos, a situação do país, dúvidas sobre o futuro e aí vai.

Festa é festa; não é hora e nem momento de amargura, de se procurar respostas e resolver questões; é diversão e pronto.

Sem contar os que ultrapassam nas bebidas e no dia seguinte é dor de cabeça garantida.

Mas a questão é refletir, então a festa fica para a hora da diversão. Para uma profunda reflexão, por mais estranho que possa parecer um velório é o lugar certo.

Ainda há pessoas que dizem: “eu não gosto de velório”. Ora, e quem em seu juízo perfeito pode gostar de velório? Os donos de funerárias gostam dos lucros, mas creio que nem eles gostam de funerais, principalmente de familiares. Só doido para gostar.

O fato é que vamos à velórios por vários motivos: Prestar uma última homenagem ao falecido, consolar a família e etc. Nos sentimos um tanto obrigados a comparecer perante alguém amado ou colega para compartilhar a tristeza dos familiares e de algum modo dar um forte abraço, oferecer nosso ombro amigo e compartilhar sua tristeza; até onde sei só humanos seguem rituais dos mais variados em todo o mundo, mas basicamente com o mesmo objetivo; despedida e consolo.

Mas a grande verdade é que quando nos deparamos com o caixão, vimos a face do falecido, as flores, às vezes fotografias ou vídeos; paramos por uns instantes e reservamos um tempo para nós, ainda que ninguém saiba, ninguém perceba. Paramos ali diante o finado e lembramos dele ativo, com planos, parecia até imortal.

Então os pensamentos vêm: Quando será a minha vez? Haverá muitas pessoas? Terei uma morte rápida? (um certo desejo de todos que sabemos que um dia morreremos; não sofrer e não fazer outros sofrerem).

Pensamos na esposa ou marido. Nos filhos. Nos amigos. Naquilo que estamos há tempo querendo e adiando; férias, viagem, realizar um sonho, pedir perdão e fazer as pazes com quem precisamos.

Um breve texto diz:: “O dia da morte é melhor do que o dia do nascimento… melhor é ir a uma casa onde há luto do que a casa onde há festa”. Eclesiastes 7:1,2. Bíblia.

Confesso que quando li a primeira vez achei no mínimo estranho; hoje, entendo.
Quando alguém nasce é uma alegria, mas é bem verdade que não se sabe que tipo de pessoa será ou seremos; no dia do velório estará evidente que tipo de pessoa fomos.

“Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer. Devia ter perdoado mais, fazer o que queria fazer…” Epitáfio - Titãs; linda música. (Sugiro ler o texto bíblico e ouvir a música).

Mas e se houver uma terceira possibilidade; nem festa e nem velório?
Talvez haja sim, e tenho procurado por ela. Não aguardar uma festa para me divertir deixando de lado os problemas e nem o funeral para avaliar minha vida e meus “passos”.

Quem sabe passaremos a rir, chorar, pedir perdão, perdoar, sonhar e buscar a realização dos sonhos, ver o sol nascer. Abraçar mais, dizer que amamos; tudo isso sem festa e sem velório.

As festas e velórios continuariam a cumprir seus papéis; mas as nossas reflexões estariam em outro lugar. Na sensibilidade de quem não espera por farras ou choros, mas que se dá ao prazer de ver como é bom viver e em paz, em qualquer momento e lugar. Sempre!

domingo, 10 de dezembro de 2017

Um mundo cruel

A palavra cruel nos dá a ideia de: Rigor excessivo, barbaridade, desumanidade.

Crueldade nos faz lembrar de atos bárbaros e desumanos praticados por “seres humanos” contra seres humanos. Alguns exemplos: Escravidão, inquisição (onde a igreja católica torturou e matou dezenas de milhares de inocentes), guerras (nenhuma com justo motivo, como se pudesse haver motivo, onde centenas de milhões de civis e militares morreram); enfim, crueldade.

Mas há um outro tipo de “crueldade”. Um tipo que leva em consideração os mais ricos x os mais pobres; os mais bonitos x os mais feios; os mais estudados x os que não têm estudos e etc.

Pode até passar despercebido, pode ser que o leitor ou leitora diga que isso não é crueldade e tente encontrar outro nome.

Algumas situações: O filho de um pobre que fuma maconha não passa de um maconheiro.

Uma pessoa que tem bons estudos, bom emprego e aparente educação e usa drogas é - dependente químico. Se for um pobre é só um viciado.

Uma mulher acima do peso ou gordinha, se for famosa, dá exemplo em não se importar com o que diz a sociedade. Aumenta sua fama. Se for uma mulher pobre, como ela será descrita e apontada pelas sociedade e até pela família?

Se o George Clooney ou o Brad Pitt sair pelado na rua provavelmente as pessoas dirão: “Surtou”. “Deve estar trabalhando muito”. “É o estresse”.

Se for um homem pobre e desprovido de beleza (eufemismo de feio), possivelmente será apontado como - tarado, sem vergonha; ah uma boa surra.

Quem assistiu ao filme - Como eu era antes de você, onde uma bonita e meiga jovem se apaixona pelo homem, tetraplégico de quem se torna cuidadora, pode ou se emocionar ou pensar: O rapaz que ficou tetraplégico após um acidente é muito rico, muito bonito (sem essa de boa pinta, é bonito mesmo), muito inteligente, conhecedor de várias culturas e claro, se expressa, fala muito bem; mas e se… Se ele fosse muito pobre, feio, sem estudos, falando mal e dependendo de ajuda humanitária? Fica claro a “crueldade” do sistema, do mundo. Enfim, é um filme bonito, embora camufle uma realidade social.

A mídia que abre muitas discussões em suas novelas e demais programas, por exemplo, não abre a discussão sobre a diferença salarial; patrões/empregados. E quantas vezes já vimos atores negros aparecendo ou interpretando papéis principais? Ainda contamos nos dedos.

Ainda pode-se levar em conta famosos programas de TV onde o bullying é discutido, mas as pessoas ou os jovens que vão até ali para assistir não podem escolher o lugar em que vão sentar; um “orientador” define quem está “apto” a aparecer mais diante das câmeras e aqueles e aquelas que devem ficar um pouquinho mais longe.

Até presidiários pobres podem ficar indignados. Embora estejam presos porque praticaram crimes e não dá para ter pena, mas creio que devem ficar no mínimo “chateados” ao assistir aqueles que roubaram milhões e até podem ter causado mortes vão para seus luxuosos lares com uma tornozeleira eletrônica.

Num mundo que se diz lutar pela igualdade há guerras entre diferentes classes sociais.

Numa época em que se fala em religião, e talvez nunca antes tivéssemos visto tantas igrejas; fala-se em amor, paz e fim do preconceito; há um evidente retrocesso moral e de liberdade de expressão. Ou se fala muita bobagem, ou se hostiliza opiniões diferentes.

Nossa visão de cultura - avaliar e julgar o nosso modo de vida como o verdadeiro e o ideal; o etnocentrismo, tem nos levado a erros, a julgamentos equivocados, a trocar o doce pelo amargo e o amargo pelo doce.

Se o mundo é cruel a vida continua sendo uma dádiva maravilhosa. Se há pessoas cruéis há muitos dispostos a uma autoavaliação que pode nos levar a evoluir, crescer e nos tornar agradáveis a nós e aos outros. E isso é o oposto de cruel, é - misericordioso, é humano!

domingo, 3 de dezembro de 2017

Aquele que em tudo crê

Aquele que em tudo crê

Quem já não conheceu aquela pessoa que acredita em tudo o que lhe dizem?

Os escravos eram persuadidos, portanto, levados a crer que comer manga e tomar leite com minutos ou horas de diferença lhes faria muito mal; poderia os levar à morte. Essa maldosa e errada informação colocava medo nos ingênuos escravos e protegia os bens dos seus amos. Pura crueldade com base na ignorância.

Qualquer um de nós é capaz de lembrar de coisas que em nossa infância pareciam reais ou assustadoras e agora damos risadas.

Mas e hoje, quantas coisas ainda levamos a sério e lá no futuro é que entenderemos nosso equívoco?

O pior é crer em qualquer coisa sem base sólida e talvez morrer sem saber o porquê.

Se perguntarmos para alguém o motivo real; talvez para nós mesmos, o por que não comemos carne na sexta-feira santa; a razão pela qual acendemos velas em bolos de aniversários e perto de caixões em velórios; os motivos de estourarmos fogos na virada de ano; se procurarmos as respostas, talvez ficaríamos surpresos, assim como ficariam os escravos lá do passado que evitavam comer manga e tomar leite no mesmo dia.

Pessoas inexperientes creem em qualquer coisa que lhe dizem; pessoas experientes, “maduras” e inteligentes pensam antes de agir, analisam com calma tudo o que ouvem; mesmo que pareça ter vindo de fontes seguras; como em telejornais, e principalmente, nas redes sociais. Aliás, nas redes sociais praticamente qualquer pessoa publica o que quiser sem assumir responsabilidades.

Ouvir a opinião de mais de um médico ou dentista é muito importante.

Há poucos dias li algo especial: Aprender é um processo de superação de preconceitos e estereótipos. Sim, aprender não envolve apenas ter tempo, antes - a superação. Aceitar que muitos dos nossos conceitos e entendimentos podem não estar certos; ou pelo menos precisam ser ajustados. E quem está disposto a isso? Os que têm “sede” de aprender.

A sociedade parece estar acostumada ao: “Ele rouba, mas faz.” Como se isso justificasse ações levianas. Não seria um caso parecido a essa situação?

“Um marido traído mantém seu casamento alegando que embora a esposa seja infiel ela é linda, cozinha bem, é boa mãe, cuida bem da casa e até se dá bem com a sogra”. Esse marido poderia crer que a infidelidade da esposa pode ser aceitável diante suas boas qualidades.

Os ingênuos costumam acreditar em qualquer coisa que lhe dizem; está na Bíblia, em Provérbios 14:15.

Sermos ingênuos ou experientes, tolos ou inteligentes não depende da simples escolha do que somos ou queremos ser. Parece haver a necessidade de estudos, pesquisas, boas conversas e “mente aberta”.

Os pobres escravos foram vítimas de mentiras, mas numa situação e época completamente diferente.

E de qual grupo o leitor e eu fazemos parte, dos ingênuos ou dos prudentes?

A resposta deve ter bem mais haver com o agir e não com o falar!

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A cadeira

A cadeira

Uma vez perguntei a um psiquiatra: A pessoa que é ansiosa faz muitas coisas por ser ansiosa ou é ansiosa por fazer muitas coisas?

Elaborei essa pergunta reflexiva e talvez não tão profunda em outra: Não sei se eu bebo porque a minha mulher me deixou ou se ela me deixou porque eu bebo.

Toda essa minha reflexão veio a partir do momento em que me desfiz de um pedaço de mim.

Estivemos juntos desde outubro de 1996. Até ela manifestar dificuldades em manter seus serviços fomos companheiros de momentos especiais. Ouvimos e presenciamos muitas histórias; ora engraçadas, ora trágicas. Ela por sua vez colaborou de maneira direta em manter minha vida financeira por duas décadas. Ainda que uma vida modesta e simples, mas sem nada faltar.

Ela recebeu e acomodou centenas, talvez milhares de pessoas. Uma coisa é certa; quase 60 mil atendimentos foram realizados sobre seu confortável colo; colo de irmã, da amiga, de mãe. E dela tive a ideia em 2009 de entrar para a comunicação através de nossas experiências. Embora nunca tivesse lhe dado um nome específico, nem foi necessário.

Ela apareceu em fotografias de vários jornais, em imagens de diversos canais e programas de TV e foi mencionada em inúmeros programas de rádio.

Houve um momento em que várias pessoas passaram a me identificar por ela:

Na cadeira do barbeiro - Foi dela, nela e por ela que iniciei na comunicação; livros, colunas em jornais, blog, Portal Instituto Caros Ouvintes Para Pesquisa e Estudo de Mídia e o programa de rádio que seguiu o nome das colunas - Na cadeira do barbeiro.

Já no final de 2013, quando recebi meu registro profissional de jornalista ela estava um tanto cansada e um pouco desgastada. Deveria ter notado e dado mais atenção a minha antiga companheira. Mas o tempo passou e ela perdeu as condições de ser usada, ou melhor, de continuar servindo de colo a tantos amigos frequentadores ou mesmo os de passagem.

A pressão para vendê-la não foi à toa; havia pouco espaço. Ela tomava um pedaço de um espaço do qual por duas décadas fora a rainha; agora tratada como um estorvo, e já havia outra em seu lugar.

Venda, não venda, reforme, mas, por favor, a tire daqui; não há mais espaço para ela.

Certa manhã um colega barbeiro, dedicado e respeitado no ramo, me procurou e disse que ouvira que ela estava a venda. Sim; disse que estava. Ele a levou. Irá reformá-la.

Lá no início quando falei da pergunta feita ao psiquiatra, pensei sobre a minha cadeira: Por que nos apegamos a coisas inanimadas? Por que atribuímos certas qualidades que quase vivificam objetos? Talvez não tenha haver com ansiedade ou loucura; quem sabe nem explicação lógica haja. Mas quem de nós já não sentiu falta de um brinquedo de infância; de um carro; uma casa ou outro objeto ou móvel qualquer? Há os que nunca sentiram; normal, somos diferentes.

Mas aquela cadeira, da marca Status, que comprei em outubro de 1996 e paguei na ocasião 3 vezes de 233 reais; valor total da época de mais de 7 salários mínimos valeu muito mais do que isso.

Valeu mais que o sustento financeiro da família em 20 anos; valeu rumos e caminhos que mostraram que a maravilhosa profissão de barbeiro pode nos levar a conhecer outros “mundos” e ter incríveis experiências.

Ah, se a minha cadeira falasse… E quem disse que ela não fala? Basta prestar atenção!

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Novembro Azul. Calma, é só um toque.

Novembro Azul. Calma, é só um toque.

Álvaro e Juca estavam no bar do seu Arlindo falando sobre futebol; Avaí e Figueirense.

Álvaro, figueirense e Juca, avaiano. Cai, não cai, fica, volta..

Nesse momento chega Roberto. Ele se enche de coragem e diz:

- Vou falar sem vergonha. Fiz o tal do exame do toque. É, aquele mesmo.

Havia mais de 10 homens no bar. A maioria ficou perplexa; sobretudo com uma expressão de Roberto, “vou falar sem vergonha”. Aquilo soou estranho para eles. Seu Arlindo ofereceu uma rodada por conta da casa.

- Roberto, percebendo um certo preconceito, enfatizou:

- É isso aí. Fiz mesmo e não tenho vergonha. E vou fazer uma pergunta, quantos de vocês aqui fumam? Sabiam que depois do câncer de pulmão, o de próstata é o que mais mata homens no Brasil?

Quase todos eram fumantes, então, baixaram a cabeça e tentaram disfarçar.

Quando começaram as piadinhas sobre o exame que Roberto havia feito, Álvaro e Juca entraram na conversa. O primeiro foi Álvaro. Ele relatou:

- Qual é o problema? Eu mesmo fiz o exame e não sou menos homem por isso. O Roberto falou bem, o câncer de próstata é o segundo que mais mata em nosso país. E digo mais, foi tranquilo. Fiz pela primeira vez, não dói nada. E é bem rápido.

Juca entrou na discussão:

- É. Eu também fiz - Álvaro ficou surpreso. Seu bom amigo Juca não havia comentado nada até então. Ele acrescentou - Ninguém é menos homem por fazer o exame do toque, pelo contrário, tem que ser muito macho.

Roberto e Álvaro gostaram da defesa de Juca. Só não entenderam muito bem a parte de ser muito macho. Os bate papos de bares costumam ser francos, ainda que um tanto rudimentares.

Juca passou a explicar com calma e em detalhes como é feito o exame. Alguns se encolhiam. Havia os que riam. Outros respiravam fundo. Juca, Álvaro e Roberto não entenderam porque alguns respiraram fundo. Mas Juca comentou sobre a importância de se fazer o exame e como há possibilidades de cura se descoberto no início.

Roberto disse que o seu médico fora o doutor João Carlos. Álvaro disse que o seu fora o doutor Cláudio. Juca sorriu e disse que o seu também fora o doutor Cláudio.

Álvaro disse:

- O doutor Cláudio é um homem de uns 40 anos, moreno claro, 1,80 de altura, olhos verdes, voz de locutor de FM e muito atencioso.

Juca disse:

- Não, É outro. O doutor que fez meu exame é mais novo. No máximo 30 anos, loiro, olhos azuis, 1.90, parecia malhar muito. É solteiro e mora numa das praias da ilha.

Os demais homens se olharam com certo receio. Perceberam que o exame era fundamental para a vida e resolveram fazer também. Só havia uma dúvida; nunca haviam percebido como os amigos eram tão observadores.

Uns dois meses depois, os mesmos homens, no mesmo bar, falavam a respeito da importância do exame de toque; que não fazê-lo é tolice; ninguém é menos homem por se sujeitar ao teste. Estavam seguros e decididos a repetir no ano seguinte e incentivar todos os demais amigos e familiares a terem essa experiência.

Todos falavam da ausência da dor, do passageiro constrangimento, da importância da vida. Mas preferiram evitar dar detalhes sobre os médicos assim como os 3 primeiros amigos haviam feito. Pensavam que não deveriam expor tanto seus médicos. E vai que naquela roda de mais de 10 amigos o mesmo médico tivesse atendido mais de um deles. Era pessoal demais.

Concordaram que o mais importante é fazer o exame sem medo e sem preconceito. independente do médico!

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Dia de visitas

Dia de visitas

Visitar segundo o que sabemos e confirma o amigo dicionário é: ir ver alguém, por cortesia, dever, afeição e etc.

Há poucos meses recebi um vídeo onde um jovem falava de modo convincente sobre algo muito importante e uma grande verdade; o dia em que mais recebemos visitas, elogios e flores. Quando? No dia em que morremos, em nosso velório ou funeral.

Justamente naquele dia em que não poderemos dar um abraço, um aperto de mão, um beijo, sentir o cheiro das flores e muito menos agradecer.

A modernidade parece que nos aproximou. Pelo menos em algumas situações; questões profissionais e com amigos ou parentes distantes. Mas no sentido de - aproximação, afeição, carinho, encontros e reencontros, olhos nos olhos, o sentir e compartilhar sentimentos; será que as redes sociais cumprem bem esse papel?

Dia 02 de novembro é uma data marcada por muitas visitas, visitas àqueles a quem amamos e não estão mais entre nós. (Vale ressaltar que a coluna não está discutindo conceitos espirituais e religiosos; há diferentes opiniões e crenças que devem ser respeitadas)

Lembrar de visitas, amizades, apoio a ser dado e recebido me fez lembrar do vídeo ao qual mencionei no início da coluna - o dia que mais recebemos elogios e flores.

Por que resistimos a um impulso que lá no fundo nos diz que deveríamos pedir perdão?
Qual a razão de suportar um desejo ainda que tímido de expressar o quanto amamos a alguém?
O que nos impede de tocar e acariciar nosso cônjuge, pai, mãe, filhos, avós?

Um certo dia 02 de novembro é com certeza um dia simbólico, marcado por saudades e para muitos por remorsos.

Dias de visitas podem ser marcados por sorrisos vistos de perto, por abraços apertados, por beijos de verdade, pelo firme aperto de mão e olhos nos olhos, por saborear ainda que a mais simples comida e bebida; e toda comida e bebida com quem amamos torna-se um banquete.

Se um dia tivermos que visitar um amigo ou parente finado terá sido alguém que fora visitado em dias melhores. Dias onde houve trocas de experiências e todos os sentidos estavam em ação.

Dias em que os ouvidos, os braços, os olhos, a boca e o “coração” compartilharam o que há de melhor na dádiva da vida - a vida!

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Espiral do silêncio e a comunicação

Espiral do silêncio e a comunicação

“Espiral do silêncio” é uma teoria da ciência política e comunicação em massa proposta pela cientista alemã, Elisabeth Noelle-Neumann em 1977.

Afinal de contas, o que isso significa? Elisabeth entendeu que a opinião individual é de fato omitida, “abafada”, quando esta entre em conflito com a opinião da maioria; geralmente divulgada com ênfase na mídia. Ou seja, muitos deixam de expressar o que realmente sentem sobre certos temas por medo. Segundo a cientista, medo de entrar em isolamento social, talvez até se tornem vítimas de zombarias.

Essa teoria, elaborada e publicada há 40 anos, ainda se percebe hoje, talvez mais do que nos anos 70.

Quando assistimos a um programa onde há muitos convidados e plateia, temas polêmicos são levantados, não é incomum a maioria aplaudir qualquer coisa que se diga, principalmente se for alguém famoso.

Aí entra em cena, aliás, não entra em cena, permanece no anonimato, no isolamento, aquelas pessoas que têm um pensamento diferente. Talvez até batam palmas; o que não quer dizer que concordem com o que foi falado, mas por medo de serem ou pensarem - diferente acabam batendo palmas para qualquer bobagem.

A pergunta poderia ser: Os temas levantados em novelas, programas de auditório e outros refletem o que a maioria pensa, ou o que a mídia quer que as pessoas pensem?

A mídia com seus programas de baixa qualidade entende que quase ninguém quer ser taxado como diferente, “quadrado”, ou “mente fechada”; então, quem erguerá a voz e dirá de forma respeitosa o que realmente pensa, sem medo?

Quantos jornalistas já foram demitidos por dizerem ou a verdade ou simplesmente o que pensavam sobre certos assuntos?

As táticas de comunicação são poderosas: Um levantar de sobrancelhas ao final de uma notícia, um leve suspiro ou um breve movimento dos ombros ou mãos podem indicar um pensamento.

Mas quem os faz? Por que os faz? Quem os interpreta?

Vivemos momentos que dão o que pensar. Será que o que está em pauta nas novelas, telejornais, programas de auditório refletem com precisão o que a maioria pensa?

Desde assuntos de ordem política, familiar, sexual e até religiosos têm fornecido uma pauta para os bate papos entre colegas e amigos; e com que efeito? Abrir discussões?

Há diversas opiniões acerca de um mesmo tema; quem está certo, quem tem que engolir?

Quando a população recebe o direito de participação são poucos segundos e bem monitorados. E infelizmente muitos que têm essa participação ainda estão pouco preparados para expor com clareza suas ideias em tão pouco tempo.

Espiral do silêncio. Ele começa lá de cima e vem descendo até chegar na maior camada da sociedade. Então o medo, o receio de parecer - o antiquado, o careta; e volta lá para cima, para quem domina sobre as grandes massas.

Amanhã com certeza a maioria de nós terá algo para falar com os amigos. Alguém dará a pauta que mais lhes interessa.

Menos alguns do tipo, “duros de espírito”. Esses, mesmos que demitidos ou um tanto isolados defendem o que acreditam e procuram a verdade. Esses escrevem as suas próprias pautas e deixam espaço para que outros digam o que pensam e por quais motivos.

Esses estão fora da “espiral do silêncio”. São poucos, mas suas “vozes” ainda podem ser ouvidas por quem sabe as interpretar.